domingo, 28 de fevereiro de 2010

Camelódromos de Goiânia mudam imagem de empresários


Aquela imagem dos camelôdromos como um aglomerado caótico de bancas de produtos contrabandeados do Paraguai é coisa do passado. Quinze anos depois da instalação dos primeiros centros de comércio popular em Goiânia, a realidade empresarial deste tipo de negócio é outra. Trata-se de um empreendimento planejado, com pequena margem de informalidade, lucrativo e inserido nas regras do mercado consumidor.

As mercadorias de origem duvidosa ainda estão por lá, mas são minoria em meio à diversificação de produtos nacionais e importados, desde roupas íntimas femininas com alto apelo erótico à sofisticadas TVs de plasma. Tem de tudo camelódromo: ferramentas, guarda-chuva, GPS, som automotivo, molinete e uma variedade enorme de confecção.

Pioneiro no ramo, Leonardo Guerreiro do Valle é diretor da empresa que administra os Camelódromos I e II de Campinas, os maiores da cidade. O empreendedor lembra que hoje 70% das 700 lojas dos dois centros comerciais são constituídos de artigos ligados a vestuário, acessórios femininos e calçados.

“Praticamente não existe mais aquela figura do camelô que vai a Ciudad del Leste de ônibus para trazer mercadoria contrabandeada. As flutuações do câmbio e o risco da operação tendo em vista o cerco da fiscalização tributária tornaram o descaminho inviável”, explica o empresário. “Temos ainda uma parte de artigos importados, principalmente de jogos eletrônicos e equipamentos digitais, mas até no setor de brinquedos infantis a tendência é de comercializar o produto nacional”, explica.

Leonardo salienta que as exigências do cliente, tendo em vista os direitos de consumidor, obrigam o camelódromo cada vez mais a se profissionalizar. “Nós mantemos um padrão de segurança, limpeza e organização que não difere muito dos shopping centers de luxo. Embora sejamos um centro de comércio popular recebemos consumidores de todas as classes sociais, inclusive das camadas altas que chegam aqui em carrões importados.”

O diretor estima que, por mês, aproximadamente 180 mil pessoas passam por cada um dos camelódromos que administra. No mais novo, inaugurado em 2006, há praça de alimentação, garagem coberta, elevador, equipamentos de acessibilidade a portadores de necessidades especiais e uma agência do Vapt-Vupt. O aluguel de um espaço de quatro metros quadrados fica em torno de R$ 500. Já a aquisição do ponto exige um investimento mais arrojado, pois dependendo da localização da loja, o valor pode chegar a R$ 80 mil.

Um exemplo do novo perfil do comerciante que substituiu o tradicional camelô de rua nos centros de comércio popular é Rejane Maria dos Santos. Com duas lojas de moda praia nos camelódromos de Campinas, a microempresária possui uma fábrica de biquínis e maios, gera 13 empregos diretos e formais, consegue um faturamento mensal médio de R$ 50 mil e está em processo de aquisição da patente de sua marca junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).

Há no camelódromo o caso curioso de um atacadista de acessórios para telefone celular. São milhares de produtos em exposição. O proprietário, um libanês que admitiu ainda não saber se comunicar bem em português, por intermédio da funcionária Regiane Marques, argumenta que a sua empresa vende em grande escala baterias, carcaças, chips, cristais e aparelhos para vários Estados como Pará, Bahia e até o Acre.

O camelódromo mudou a vida de Belchior Alves Pereira, 53 anos. Até 1995, o pequeno comerciante trabalhava nas calçadas da Rua 24 de Outubro, em Campinas, no comércio ilegal de produtos contrabandeados do Paraguai. “Fui um dos primeiros a se estabelecer no camelódromo e me sinto honrado de ser um comerciante dentro da lei. Aqui tenho conforto, segurança e dignidade para trabalhar”, comenta. Belchior comercializa artigos de vestuário em geral e, por conta da sua estratégica loja situada na entrada principal do centro de comércio popular, já adquiriu casa, carro e leva uma vida de classe média. “Trabalhar na rua nunca mais”, se empolga o comerciante.

Fonte: O Hoje (http://www.ohoje.com.br/cidades/28-02-2010-camelodromos-mudam-imagem-de-empresarios/)